domingo, 19 de outubro de 2014

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Empreendedorismo Social

O empreendedor social é a pessoa que tem o perfil de ajudar a provocar mudanças sociais, visando buscar soluções para os problemas da comunidade, problemas ambientais e até mesmo econômicos. O objetivo do empreendedor social não é gerar lucro, mas ganho em qualidade de vida.


1 INTRODUÇÃO

Algumas pessoas às vezes investem seus recursos (financeiros, emocionais) na nobre intenção de mitigar o sofrimento de outras pessoas, dando a essas uma oportunidade de mudar seu quadro social, muitas vezes lamentável. Tais pessoas com tino para a ajuda social praticam um tipo de empreendedorismo social, baseado em certas características, que elevam o padrão de vida de comunidades.

Ou seja, o empreendedor social é a pessoa que tem o perfil de ajudar a provocar mudanças sociais, visando buscar soluções para os problemas da comunidade, problemas ambientais e até mesmo econômicos. O objetivo do empreendedor social não é gerar lucro, mas ganho em qualidade de vida.
Assim, pode-se dizer que empreendedores sociais são reformadores e revolucionários que, em vez de buscarem melhorar sua própria vida financeira, buscam melhorar o ambiente inteiro por suas ações.
O presente trabalho aborda o assunto a partir da ótica da pesquisa bibliográfica. Para seu desenvolvimento, baseou-se principalmente em textos e artigos científicos que discorrem sobre o tema e aludem ao fato de as pessoas empregarem seus recursos e seu conhecimento para o desenvolvimento social a partir de ações sustentáveis. A técnica usada foi a da leitura, do fichamento e do resumo de textos/artigo. A abordagem é exploratória e a natureza é aplicada, visando ampliar o conhecimento do assunto sem esgotá-lo.
2 EMPREENDEDORISMO SOCIAL

O Empreendedorismo Social é uma vertente do empreendedorismo em que os atores, em vez de trabalharem para mudar alguma situação particular, inovando para criar produtos ou serviços cujo fito seja o lucro, empregam recursos financeiros, emocionais, criativos, inovadores para melhorar o ambiente em que vivem. De acordo com Melo Neto e Froes apud Aveni (2010), o empreendedorismo social apresenta pelo menos cinco características, que o diferencia dos outros tipos de empreendedorismo:

a) é coletivo e integrado; b) produz bens e serviços para a comunidade local e global; c) tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais e necessidades da comunidade; d) sua medida de desempenho são o impacto e transformação social; e) visa a resgatar pessoas da situação de risco social e promovê-las, e a gerar capital social, inclusão e emancipação social.

Partindo das observações postas, compreende-se o empreendedor social como uma pessoa que tem o perfil de ajudar a provocar mudanças sociais, visando buscar soluções para os problemas da comunidade, problemas ambientais e até mesmo econômicos. O objetivo do empreendedor social não é gerar lucro, mas ganho em qualidade de vida. Segundo Leadbeater apud Aveni (2010):

Empreendedores sociais são como empresários nos métodos que eles utilizam, mas eles são motivados por objetivos sociais ao invés de benefícios materiais... Sua grande habilidade é que eles, com freqüência, fazem as coisas a partir de quase nada, criando formas inovadoras de promoção de bem estar, saúde, habitação, que são tanto de baixo custo, quanto efetivas se comparadas aos serviços governamentais tradicionais.

Para Melo Neto e Froes (2002), o empreendedorismo social pode ser visto como um modelo de desenvolvimento humano, social e sustentável, segundo o qual o foco é mudado, ou seja, em vez da geração de lucros e dividendos para aumentar o patrimônio da organização, prima-se pelo desenvolvimento da comunidade, para a sociedade civil.

A sociedade sustentável poderá ser viabilizada por fomentos de ações de empreendedorismo de cunho social e estratégias de inserção social que sejam também sustentáveis, podendo ser desenvolvidas através do "empoderamento" das comunidades, segundo Melo Neto e Froes (2002):

Uma comunidade "empoderada" é terreno fértil para a criação, o gerenciamento e o desenvolvimento de empreendimentos. Portanto, as ações de empoderamento proporcionam uma base econômica capaz de assegurar o surgimento de novos empreendimentos, bem como sua sustentabilidade. A base social garante a solidariedade, o que viabiliza o surgimento de empreendimentos cooperativos, em um processo de transformação da sociedade que se caracteriza pela presença dos seguintes elementos: a) aumento do nível de conhecimento da comunidade local com relação aos recursos existentes, capacidades e competências disponíveis em seu meio; b) aumento do nível de consciência da comunidade com relação ao seu próprio desenvolvimento; c) mudança de valores das pessoas que são sensibilizadas, encorajadas e fortalecidas em sua auto-estima; d) aumento da participação dos membros da comunidade em ações empreendedoras locais; e) aumento do sentimento de conexão das pessoas com sua cidade, terra e cultura; f) estímulo ao surgimento de novas idéias que incluem alternativas sustentáveis para o desenvolvimento; g) transformação da população em proprietária e operadora dos empreendimentos sociais locais; h) inclusão social da comunidade; i) melhoria da qualidade de vida dos habitantes.

Assim, pode-se dizer que empreendedores sociais são reformadores e revolucionários que, em vez de buscarem melhorar sua própria vida financeira, buscam melhorar o ambiente inteiro por suas ações. Sua ação é concentrada na obtenção de vantagens para a comunidade e visa a transformar o próprio modo de agir das pessoas envolvidas a partir de ações organizadas através do capital social, capital humano e capital produtivo.

O capital social pode ser entendido como o potencial de atuação da sociedade envolvida, percebido através de suas diversas formas de associação. O capital humano, nesse caso, compreende os valores individuais, as atitudes, a gama de conhecimentos e as habilidades individuais e mesmo de uma determinada comunidade. E o capital produtivo, por sua vez, se constitui dos recursos tangíveis e intangíveis, capazes de gerar riquezas e de possibilitar a criação de oportunidades de trabalho, emprego e renda para as pessoas de uma comunidade (FRANCO, 2000).

Segundo Dornelas (2010), empreendedor é um indivíduo que apresenta características como:

Iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz, utilização de recursos disponíveis de forma criativa transformando o ambiente social e econômico, que tem potencial para saber os riscos calculados e a possibilidade de fracassar. Ou seja, o empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização.

O empreendedorismo social apresenta basicamente as mesmas características, sendo que, de acordo com Oliveira (2004), a ideia de empreendedorismo social tem que apresentar algumas características fundamentais. A primeira é ser uma idéia inovadora, a segunda uma idéia que seja realizável, terceiro que seja auto-sustentável, quarto que envolvam várias pessoas e segmentos da sociedade, principalmente a população atendida, quinto que provoque impacto social e que possa ser avaliada os seus resultados. Os passos seguintes é colocar esta idéia em prática, institucionalizar e gerar um momento de maturação até ser possível a sua multiplicação em outras localidades, criando assim um processo de rede de atendimento ou de Franquia Social, e até se tornando em política publica.

Dentro do entendimento enunciado por Oliveira (2004), a seguir apresenta-se um caso bem-sucedido de empreendedorismo social iniciado no Brasil e que, de tal importância, foi exportado para alguns países: a Pastoral da Criança, criada por Zilda Arns.

3 CASOS DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL

3.1 A PASTORAL DA CRIANÇA

3.1.1 Zilda Arns [1]

A doutora Zilda Arns Neumann, médica pediatra e sanitarista, foi uma empreendedora social. Em seu trabalho, fundou e coordenou a Pastoral da Criança, fundou e coordenou a Pastoral da Pessoa Idosa, dois organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Nascida em Forquilhinha (SC), mãe de cinco filhos e avó de dez netos, escolheu a medicina como missão e enveredou pelos caminhos da saúde pública. Sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba (PR), e posteriormente como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico diversas especializações como Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo (USP) e Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS). Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada a coordenar a campanha de vacinação Sabin para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória (PR), criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde.

Em 1983, a pedido da CNBB, a Dra. Zilda Arns criou a Pastoral da Criança juntamente com Dom Geraldo Majela Agnello, Cardeal Arcebispo Primaz de São Salvador da Bahia, que na época era Arcebispo de Londrina.
Assim, desenvolveu a metodologia comunitária de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre da multiplicação dos dois peixes e pães que alimentaram milhares, narrados no evangelho de João (6: 1-15).

A educação das mães por líderes comunitários capacitados revelou-se a melhor forma de combater a maior parte das doenças facilmente preveníveis e a marginalidade das crianças. Em 2004, a Dra. Zilda Arns recebeu da CNBB outra missão semelhante, fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa.
Pelo trabalho social que desenvolveu, Zilda Arns foi agraciada com as seguintes condecorações: Woodrow Wilson, da Woodrow Wilson Fundation, em 2007; o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), pelo inovador programa de saúde pública que ajuda a milhares de famílias carentes, em 2006; Heroína da Saúde Pública das Américas (OPAS/2002); 1º Prêmio Direitos Humanos (USP/2000); Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988); Prêmio Humanitário (Lions Club Internacional/1997); Prêmio Internacional em Administração Sanitária (OPAS/ 1994); títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Universidade Federal do Paraná, Universidade do Extremo-Sul Catarinente de Criciúma, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade do Sul de Santa Catarina.

Antes de sua morte, em 2009, numa situação de ajuda humanitária no Haiti, Zilda se tornara Cidadã Honorária de 10 estados e 35 municípios, e foi homenageada por diversas outras Instituições, Universidades, Governos e Empresas.

3.1.2 O trabalho de Zilda Arns

Segundo Mendes (2010), Zilda Arns representou de forma excelente o espírito do empreendedorismo social por seu altruísmo, legando à sociedade brasileira um trabalho de resgate das pessoas da miséria e de condições subumanas de vida. O trabalho da doutora Zilda Arns foi iniciado no município de Florestópolis (PR), "onde [...] morriam 127 crianças para cada mil nascidas vivas, mas depois de um ano de atividades, fez o índice cair para 28 mortes para cada mil crianças nascidas vivas" (MENDES, 2010).

Em mais de vinte anos de trabalho, a Pastoral da Criança atua em 42 mil comunidades pobres, está presente em 4.066 municípios, conta com 260 mil voluntários e assiste cerca de 2 milhões de crianças e 95 mil gestantes. A Pastoral da Criança não é uma instituição que apenas assiste as pessoas nessas necessidades, mas que também "ajuda a construir uma visão duradoura" na sociedade e que "permitiu a recuperação de milhares de pessoas em diferentes países com o mais nobre dos empreendimentos: salvar vidas e promover a esperança" (MENDES, 2010).

De acordo com Angonese (2010), o trabalho de Zilda Arns foi inovador e revolucionário, "tanto do ponto de vista ferramental quanto organizacional", destacando-se o seguinte:

Programa de alimentação alternativa – baseado no aproveitamento de folha e raízes que, em geral, vão para o lixo. Isso foi decisivo na melhoria da nutrição das crianças carentes e na redução da mortandade infantil, rigorosamente mensurada pela Pastoral da Criança; rede de voluntariado formada por pessoas das próprias comunidades que, num sistema altamente organizado, a divisão do atendimento era feito por quadras, orientando as famílias e acompanhando as crianças (ANGONESE, 2010).

O trabalho desenvolvido pela médica e sanitarista Zilda Arns demonstra muito mais que o empreendedorismo social em voga, também a liderança exercida por ela. Segundo Angonese (2010), ela "mobilizou pessoas, recursos, governos e a sociedade nacional e internacional em prol da comunidade". O trabalho desenvolvido na Pastoral da Criança serviu de modelo para o programa governamental de Saúde da Família, em que os agentes comunitários de saúde vão de casa em casa atendendo as pessoas.

A Pastoral da Criança expandiu sua atuação pelo mundo, desenvolvendo o programa de atendimento em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, Argentina, Paraguai, Honduras, México, Venezuela, Bolívia, Uruguai, Peru, Panamá, República Dominicana, Colômbia, Guatemala, Filipinas, Guiné e Haiti, além do Brasil. O quadro abaixo apresenta números do trabalho desenvolvido pela Pastoral da Criança:

Números da Pastoral da Criança:
Famílias assistidas - 1.256.079
Crianças acompanhadas - 1.598.804
Gestantes acompanhadas - 84.617
Comunidades acompanhadas - 41.176
Voluntários - 84.617
Fonte: Pastoral da Criança apud Angonese (2010)

O empreendedorismo social desenvolvido pela Pastoral da Criança, iniciada pela Dra. Zilda Arns, atende a todos os requisitos salientados por Oliveira (2004). Trata-se de um trabalho inovador, revolucionário, factível, mobilizador e de forte impacto social quantificado nos números apresentados. Além disso, tornou-se uma franquia social abrangente e modelo para políticas públicas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empreendedor social é a pessoa que tem o perfil de ajudar a provocar mudanças sociais, visando buscar soluções para os problemas da comunidade, problemas ambientais e até mesmo econômicos. O objetivo do empreendedor social não é gerar lucro, mas ganho em qualidade de vida.
O caso da Pastoral da Criança, instituição filantrópica criada pela médica Zilda Arns, exemplifica bem essa teoria. O trabalho da Pastoral, desenvolvido com base no voluntariado das comunidades, assiste a milhões de crianças e milhares de gestantes no Brasil e no exterior.

Os expressivos números da Pastoral da Criança demonstram quão bem sucedidos foram o trabalho e o exemplo da Dra. Zilda Arns. A assistência prestada às mais de 1,2 milhões de famílias espalhadas nas mais de 41 mil comunidades, contando com mais de 84 voluntários, ribombam pelo mundo afora, ecoando uma mensagem tão forte, que as pessoas que não a conheciam chegam a dizer, espantadas: "nossa, ela criou tudo isso?" (ANGONESE, 2010).

Sobre o investimento por pessoa, os dados não informam os valores empregados individualmente. Sabe-se, no entanto, que a cota é baixa, pois o programa criado pela Pastoral da Criança serve-se de raízes e cascas, que normalmente vão para o lixo. Por outro lado, os resultados relatados são bastante amplos, pois o alcance da instituição rompeu as fronteiras nacionais, e hoje está presente em pelo menos vinte nações diferentes.

Os resultados implícitos e secundários são da ordem do resgate social. Muitas das crianças assistidas fatalmente iriam a óbito, caso os voluntários da Pastoral da Criança não viesse em seu auxílio. A redução da mortandade infantil e a assistência a futuras mães fazem parte de números que exemplificam mudanças de vidas para melhor, demonstrando como o sistema de atendimento a crianças foi revolucionado através de mecanismos inovadores, "tanto do ponto de vista ferramental quanto organizacional" (ANGONESE, 2010).

Assim, pode-se dizer que a Pastoral da Criança, através do seu empreendedorismo social, adota uma missão social e a executa. Seu objetivo maior é a geração de valor social, e a instituição funciona porque tem meio para atingir determinado fim, no caso, assistência às famílias, e apresenta a capacidade de atrair recursos filantrópicos e o reconhecimento estatal, tanto que seu modelo serviu como base para o governo brasileiro instituir os programas "saúde da família", ou "Programa de Agentes Comunitários" (PACS). Finalmente, o trabalho de Zilda Arns foi um trabalho de liderança, reconhecido pela "capacidade de mobilizar os outros para que eles queiram lutar por aspirações compartilhadas" (KOUSSES e POSNER apud ANGONESE, 2010).

Fonte:http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/empreendedorismo-social/49170/

Nenhum comentário:

Postar um comentário